quinta-feira, 15 de abril de 2010

OS TIPOS PSICOLÓGICOS








OS TIPOS PSICOLÓGICOS


Os tipos psicológicos, criados por Jung, baseiam-se na maneira como o movimento da energia psíquica – LIBIDO – se processa em relação às pessoas, aos objetos, aos animais, às outras circunstâncias e condições do próprio ambiente, objetivando o entendimento das dificuldades ou facilidades nos nossos relacionamentos e no nosso modo de enfocarmos o mundo.
O modelo junguiano apresenta duas ATITUDES de personalidade e quatro FUNÇÕES de orientação.


As Atitudes:

As atitudes, extroversão e introversão, são as formas psicológicas de adaptação do indivíduo ao mundo, quer seja exterior ou interior. Elas não podem existir ao mesmo tempo na consciência, mas podem alternar-se. Assim sendo, um indivíduo pode ser extrovertido numa situação e introvertido em outra. Porém, uma dessas atitudes predominará, na vida do sujeito, por toda a sua existência.
Na extroversão, uma atitude objetiva, o indivíduo foca sua atenção no ambiente externo, adaptando-se com mais facilidade às situações do mundo exterior, pois se preocupa em inteirar-se com as coisas e com as pessoas.
Já na introversão, que é uma atitude subjetiva, esse direcionamento se dá para o mundo interior e para os seus processos internos, o que torna esse indivíduo introspectivo e retraído.









Características da extroversão:

• O movimento da libido se dá em direção ao mundo exterior.
• O objeto e a realidade exterior são de vital importância.
• Tem uma natureza saliente e franca.
• Adapta-se com facilidade às situações diversas.
• Tem medo “do que está dentro”.
• Gosta de viajar, encontrar novas pessoas conhecer novos lugares.
• Para o extrovertido, o introvertido é um chato e negativo.


Características da introversão:

• O movimento da libido se dá em direção ao mundo interior.
• A realidade interior é de vital importância.
• Tem natureza vacilante, meditativa e isolada.
• Recua diante das situações e está sempre na defensiva.
• As forças motivadoras vêm de fatores internos ou subjetivos.
• Considera o extrovertido fanfarrão e superficial.



As Funções:

As funções dividem-se em dois grupos:

Racionais - pensamento e sentimento – baseiam-se num processo reflexivo procurando avaliar e julgar internamente as suas relações com o mundo.

Pensamento (ar): É a função cujo processo associativo de idéias busca conceituar ou solucionar um problema. Portanto, trata-se de uma função extremamente intelectual . Os indivíduos pensamento são reflexivos, planejadores e julgam através da lógica

Sentimento (água): Sendo uma função avaliadora aceita ou da rejeita uma idéia, avaliando o sentimento agradável ou desagradável proporcionado por tal idéia. Os indivíduos sentimento são discriminatórios e reflexivos e tomam as decisões pelo julgamento de valores próprios como o certo ou o errado; o bom ou o mau.



Irracionais - sensação e intuição – são estados mentais que crescem através de estímulosatuantes no indivíduo, que percebe o mundo além da lógica e da razão.

Sensação (terra): A percepção do mundo se dá atravésdas experiências conscientes que estimulam os cinco sentidos, além das sensações do interior do corpo.

Intuição (fogo): É uma experiência imediata que não exige nehum julgamento e surge do nada. Os indivíduos vêem o que está no mundo interior, percebendo o mundo através do inconsciente.

Além disso, apresentam-se como :


A superior é aquela mais desenvolvida ou mais usada e está subordinada ao ego, enquanto que a inferior é inconsciente e, portanto mais livre e independente. Uma faz oposição à outra.


As funções auxiliares, sejam racionais ou irracionais, sempre diferem da função principal ou superior.




Os Tipos

1. Pensamento Introvertido:

Valorizam as idéias do ponto de vista do sujeito, não do objeto.
Interessam-se pela produção de idéias novas.
Facilmente se perdem no mundo da fantasia.
Não são práticos, são mais teóricos.
Não se deixam influenciar.

São: Pesquisadores; Matemáticos teóricos; Filósofos.
Função Inferior: Sentimento Extrovertido.


2. Pensamento Extrovertido:

Têm a vida governada pelo pensamento.
São organizados e práticos.
Fazem os projetos funcionarem.
Têm como parâmetros as idéias, os ideais,as regras e os princípios objetivos.

São: Executivos, estrategistas.
Função Inferior: Sentimento Introvertido.


3. Sentimento Introvertido:

São difíceis de serem compreendidos, pois seu exterior pouco revela.
Dão a impressão de não possuírem nenhum sentimento.
São pessoas reservadas e de difícil acesso.
Têm aparência de autoridade.
Evitam festas e aglomerados, pois sua função avaliadora do sentimento paralisa-se quando muitas coisas ocorrem ao mesmo tempo.
Podem parecer frios ou indiferentes.

São: Artistas de uma forma geral.
Função inferior: Pensamento Extrovertido


4. Sentimento Extrovertido:

Procuram relações harmoniosas com o ambiente.
São orientados pelos dados objetivos.
Não precisam pensar se algo ou alguém lhes importa; sabem.
O pensamento está subordinado ao sentimento.
São vulneráveis ao objeto amado.
Fazem amizades rapidamente, pois têm boa conversa.
São: Relações públicas e atividades afim
.Função Inferior: Pensamento Introvertido.


5. Sensação Introvertida:

São guiados pela intensidade da sensação subjetiva.
Pouco capazes da compreensão objetiva.
Tendem a recuar do mundo exterior e seus problemas.
Há uma ruptura entre a consciência e o corpo físico.
Têm pouca capacidade racional de julgamento para classificar coisas.
Não compreendem a si próprios.


São: Aqueles que têm fantasias proféticas sombrias.
Função Inferior: Intuição Extrovertida.


6. Sensação Extrovertida:

Têm percepção dos fatos bem desenvolvida.
Suas reações dependem do próprio objeto.
Procuram pessoas ou situações que provoquem fortes sensações.
O amor depende do atrativo físico da pessoa amada.
Têm bom gosto estético.
Não esquecem compromissos e são pontuais.
Adoram festas, esportes, comitês.

São: Atletas, Profissionais da moda, Homens de negócio, etc.
Função Inferior: Intuição Introvertida.


7. Intuição Introvertida:

Dirigem-se para os conteúdos do inconsciente.
Não se comunicam bem e são mal compreendidos.
São confusos, perdendo-se facilmente.
Esquecem compromissos e são desorganizados.
Têm vaga noção do seu próprio corpo físico.
Possuem uma misteriosa capacidade de pressentir o futuro.

São: Videntes, Profetas, Artistas, Xamãs.
Função Inferior: Sensação Extrovertida.


8. Intuição extrovertida:

Têm grande capacidade de percepção.
Vêem através da camada externa.
Estão sempre à espreita de novas oportunidades.
Dão pouca atenção ao corpo, não percebendo quando estão cansados ou famintos. Sentem-se prisioneiros de situações estáveis.

São: Empresários inovadores, capitães de indústria, corretores de valores, estadistas.
Função Inferior: Sensação Introvertida.


Aplicações:

Na Clínica: Usados para o conhecimento do paciente, não no sentido de rotulá-lo, mas para conhecer melhor como ele atua em relação aos mundos externo e interno, e ter acesso ao seu inconsciente, sem violentá-lo na sua função inferior. Também, quando do aconselhamento psicológico, nos auxiliará no entendimento das dificuldades de adaptação do indivíduo nos diversos setores de sua vida e, nos seus relacionamentos. Já na terapia de casais, o conhecimento dos tipos dos parceiros nos ajuda a compreender a origem de seus conflitos ,no relacionamento, permitindo-nos uma melhor análise do processo transferencial em jogo.

Na Indústria e no comércio: No sentido de conhecer melhor o funcionário adaptando-os às atividades adequadas ao seu tipo psicológico. É também um instrumento de identificação da origem de conflitos dos diversos grupos de trabalho, podendo nos oferecer propostas para as soluções dos mesmos.

Na Educação: Para permitir um planejamento educacional que procure atender melhor às necessidades de conhecimento da comunidade onde a escola está inserida, bem como de seu corpo discente e doscente. Na Orientação Vocacional e Profissional podemos utilizá-los para orientar o indivíduo à profissão que mais tenha à ver com o seu tipo psicológico.

Na Área Social: Para o entendimento dos vários perfis das instituições e dos movimentos e interações dos grupos sociais. Auxilia também na mediação entre os interesses de partes conflitantes.


Bibliografia:

LESSA, Elvina Maria Coelho Maciel. Cooperação e Complementariedade em Equipes de Trabalho. Estudo com Tipos Psicológicos de Jung. Resumo da Tese de doutorado. RJ. 2002. Disponível em: Acesso: julho de 2007.

PATROCINIO, José A.; BARCAUI, André B.; TEIXEIRA, Ricardo F. Modelo Referencial para Escolha de Profissionais Baseado na Tipologia de Jung aplicado às Organizações. Disponível em: Acesso: julho de 2007.

SHARP, Daryl. Tipos de Personalidade: o modelo tipológico de Jung. São Paulo: Cultrix, 1991.

ZACHARIAS, José Jorge de Morais. Os Tipos Humanos. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2006.

Texto: A teoria dos tipos psicológicos Junguianos e suas semelhanças com os tipos constitucionais Coreanos. Disponível em: Acesso: julho de 2007.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

As Deusas Mãe

Introdução

O mito, segundo Campbell (1992:15), é a forma através da qual as energias cósmicas penetraram nas manifestações culturais dos diversos povos; seja através das religiões, da filosofia, das artes e outras formas de expressão da inteligência humana, como são os sonhos das pessoas.
Essa simbologia, que não é fabricada, não pode ser ordenada e nem inventada ou suprimida, pois ela é a manifestação transcendente e espontânea da psique. É, portanto, o elemento de expressão dos arquétipos, que se manifestam através da sua linguagem simbólica.
Para Von Franz (2003:9), o mito, se refere aos problemas básicos da humanidade como, por exemplo, os significados do nascimento ou da morte e, da criação ou da destruição total do cosmo.
Jung, afirmava que:

Os mitos são revelações originais da psique pré-consciente, afirmações involuntárias sobre acontecimentos psíquicos inconscientes, nada menos do que alegorias de processos físicos. ...todas as figuras míticas correspondem às experiências psíquicas internas e surgiram originalmente delas. (Jung, apud Hollis, 2005:44)

Vê-se, então, que o mito revela não só o processo pré-consciente de cada povo, levando-se em conta as suas particularidades religiosas e culturais, mas, também, as verdades universais, comuns a toda a humanidade.
Neste trabalho faremos a comparação de algumas particularidades e semelhanças, entre os mitos das deusas, Ísis, Afrodite e Freya.




ÍSIS

Eu concebi, carreguei e,
dei à luz à toda a vida.
Depois de dar-lhe o meu amor
dei-lhe também o meu amado Osíris,
senhor da vegetação,
deus dos cereais,
para ser ceifado
e nascer outra vez!
Cuidei de você na doença,
fiz suas roupas, e
observei seus primeiros passos.
Estive com você, até mesmo no final,
segurando a sua mão
para guiá-lo à imortalidade!
Você para mim é TUDO.
Eu lhe dei TUDO,
e, para você eu fui TUDO!
Eu sou sua Grande-Mãe ÍSIS.


Fragmento de um hino à Ísis, apud Volpatto, 2008)

A mais popular de todas as deusas egípcias, foi cultuada em todo o antigo Egito, tanto no alto quanto no baixo império. O culto a Ísis ultrapassou as fronteiras do Egito e chegou à Grécia, onde ela era venerada ora como Afrodite, ora como Hera; a Roma e à Gália, onde o seu templo Per-Ísis, segundo alguns egiptólogos, deu origem à cidade de Paris.
Filha da deusa Nut (céu) e do deus Geb (terra), tinha como irmã a deusa Néftis, e irmãos a Seth e Osíris, de quem era esposa apaixonada.
Ao tomar conhecimento de que Seth havia assassinado e esquartejado Osíris, espalhando seus restos mortais pelo mundo, Ísis chora profundamente e, das suas lágrimas nasce o rio Nilo. Num ato de amor ela sai à procura dos despojos do seu amado, peregrinando por todo o Egito, a fim de restituir-lhe a vida.
Inteligente e astuta tinha um grande poder mágico. Foi mulher, prisioneira, fugitiva, andarilha e esmolante. Experimentando todas as dores e privações dos mortais, tornou-se a mais poderosa e sábia das deusas do Egito.
Era considerada a Mãe Natureza e o Ventre Universal. Era a provedora da vida e o modelo de mãe e de esposa, alem de ser protetora das mulheres.
Somente através do seu amor e poder é que o homem se elevava à vida espiritual.
Representam-na, normalmente, amamentando seu filho Hórus. Ostentava sobre a cabeça os chifres de Hathor, com o disco solar de Rá e o trono, que é o hieróglifo do seu nome. Em algumas ocasiões, quando o fato era ligado ao luto por Osíris, ela era representada por uma deusa negra, que originou no cristianismo as Madonas Negras.
Senhora dos céus, era a Estrela da Manhã, que anunciava o surgimento de Rá, o deus sol.
O significado do seu nome é “Antiga”, que quando associado à “Maat” sugere a sabedoria muito antiga, isto é, o conhecimento sobre a criação todas as coisa e todos os seres.
Isis dois aspectos: o da mãe criadora e o da destruidora.
A andorinha, a lua, a vaca, o milharfe e a serpente eram a ela consagrados.


Afrodite

Hino a Afrodite (h. ven 5.1-5)

Conta-me musa as façanhas da dourada Afrodite,
a Cíprica, que inspirou nos deuses o doce desejo,
conquistou as raças de homens mortais,
as aves do céu, todos os numerosos animais
que a terra nutre, e a todos os do mar.


(Homero, apud Ribeiro Jr, greciantiga.org/mit, 21/09/2008)


Vinda da Mesopotâmia Afrodite passou pela ilha de Chipre onde, alguns historiadores, dizem que ela nasceu para depois aportar-se na Grécia. É uma deusa muito antiga vinculada à beleza e ao amor, nas suas mais variadas manifestações, sejam elas espirituais ou carnais. A fertilidade, os relacionamentos e às transformações através do amor, também são atribuídos a ela.
Afrodite rege, na sua grandeza divina, a terra os céus, as ondas e as criaturas vivas, pois foi ela quem deu o germe às plantas, quem ensinou a cada espécie animal a unir-se a uma companheira, quem induziu o ser humano viver em sociedade e, a sentir o amor e a paixão.
Afrodite foi quem proporcionou ao homem os cuidados com o próprio corpo!
Na mítica grega ela aparece nas figuras de Afrodite Urânia ou Afrodite Pandêmia.
A deusa na figura Urânia é a Afrodite celeste, a qual inspira à possibilidade de um amor global, sugerido na paixão da alma, além de proporcionar, também, a capacitação do amor pelas idéias.
Já a Afrodite Pandêmia é, literalmente, a deusa do povo; aquela quem possibilita à humanidade, através do vínculo comum com a natureza, o amor mais direto, mais terreno, do qual todos podem usufruir.
Ela é a divindade da lua cheia, sendo, também, representada, pelo planeta Vênus, a estrela da manhã e do entardecer, o mais brilhante nos céus.
No aspecto de deusa do céu Afrodite viaja pelo firmamento, na sua carruagem puxada por cisnes; como deusa das ondas faz-se deslizar por elas levada, sobre o lombo dos golfinhos; como deusa dos animais faz com que eles se atraiam entre si pelo do desejo e, como deusa da terra é responsável pela sua fertilidade ao uni-la ao céu através da chuva que a umidece para
que as sementes germinem.
Afrodite foi casada, por imposição de Zeus, com o deus Hefesto e também com o humano Anquises. Manteve, também, vários relacionamentos pelos quais gerou vários filhos: Hermafrodito com Hermes; Eros com Hefesto, Ares ou Zeus, dependendo da versão; Anteros com Ares ou Adônis; Fobos, Deimos e Harmonia com Ares; Himeneu com Apolo; Príapo com Dioniso e Enéias com Anquises
; porém não cuidou de nenhum dos filhos gerados, pois sua função não é maternagem. (Lindenberg, 2007:172)
Afrodite, a deusa do amor e da fertilidade, tem por símbolos as abelhas, as cabras, os cervos, as ovelhas, as pombas e as vacas.



FREYA
Fragmento de um Hino à Freya

Eu sou Freya,
a bem amada Deusa Nórdica.
Sobrevoando o mundo,
canto alegremente,
celebrando os laços entre amigos e amantes

(apud, blogspot, 21/09/2008) Adicionar imagem

Filha do deus Njord e da giganta Skadi, Freya era a deusa mãe da dinastia dos Vanir, e tinha Frey por irmão. Vai morar em Asgard, dos Aesir, juntamente com outros dois deuses vanires, por causa de um acordo de paz.
Era cultuada como a deusa da magia, da adivinhação, do sexo, da sensualidade, do amor, da atração entre os seres vivos, das flores, da fertilidade, e da riqueza.
Representava a mulher livre, pois só escutava o próprio coração, não dando satisfação dos seus atos a ninguém.
Teve vários amantes, mas foi com Odr (Odin), o seu único e grande amor, com quem se casou e teve duas filhas; Hnoss e Gersemi. Estava sempre procurando amado Odr, pelos céus e pela terra, pois ele quase nunca ficava em Asgard. Nessa procura, chorosa, derramava lágrimas que se tornavam ouro ao cair na terra e, âmbar quando no mar.
Era representada por uma deslumbrante mulher loira de olhos azuis, portanto, no pescoço, um maravilhoso colar de âmbar e ouro; que conseguiu dormindo com os quatro anões que o produziram; e envolvida por uma linda capa de penas.
Os quatro elementos da natureza - fogo, terra, ar e água - e os quatro quadrantes da Terra - norte, sul, leste e oeste – foram conquistas de Freya.
Dizia-se, também, que a líder das Valquirias, recebia àqueles que morriam nas batalhas - metade dos homens e todas as mulheres - no seu palácio Sessrumnir, compartilhando-os com Odr.
A donzela da eterna juventude era associada à lua crescente. A lança, o gato e o javali eram a ela dedicados.


Comentários:

As três deusas eram cultuadas, nas suas respectivas mitologias - egípcia, grega e nórdica - como sendo as regentes da fecundidade, da beleza e da sensualidade, além da magia e da adivinhação.
Essas deusas, muito antigas, representavam, nas suas particularidades, a Grande-Mãe nos seus aspectos de criação e destruição; de vida e de morte.
Eram consideradas a Mãe-Natureza e o Ventre-Universal, pois eram elas quem, como deusas da fecundidade, promoviam a vida, tanto a vegetal e a animal como, também, a humana.
Como forma de transformação espiritual do ser humano, elas faziam da sensualidade e do amor os elementos de atração entre os sexos. Em função disso os povos antigos consideravam o sexo como um dom sagrado.
As deusas protegiam as mulheres e as induziam à liberdade.
Como deusas da fertilidade eram, ainda, associadas à lua no seu ciclo mágico.
Freya e Ísis eram associadas à lua nova enquanto que Afrodite estava representada pela lua cheia.
Como senhoras do céu eram, também, representadas pelo Planeta Vênus: a Estrela da Manhã, a Estrela Vespertina.
O culto a essas magníficas deusas foi substituído por imposição da igreja, na idade média, pelo culto à Virgem Maria, pois temia-se que a visão liberada, que os trovadores tinham das mulheres, pudesse comprometer a autoridades sacerdotail e a masculina. (Woolger, 2007:129)
Na ladainha à Virgem Maria vêem-se, ainda hoje, alguns epítetos relativos às deusas: “Estrela da Manhã”, “Rosa Mística”, “Sede da Sabedoria” e “Vaso Espiritual”.



BIBLIOGRAFIA:


Alvarenga, outros - Mitologia Simbólica, Casa do Psicólogo, SP, 2007.
Browker, J. – Para Entender as Religiões, Atlas, SP, 1997.
Campbell, J. – O Herói de Mil Faces, Cultrix SP, 1992.
Meunier, M. - A nova Mitologia Clássica, IBRASA, SP, 1998.
Neumann, E. – A Grande Mãe, Cultrix, SP, 1996.
Woolger, J.B.e R.J. – A Deusa Interior, Cultrix, 2007.
Ribeiro Jr. – www.greciantiga.org/mit, 22/09/2008
www.blogspot, 15/09/2008
http://www.rosanevolpatto.trd.br, 16/09/2008
http://pt.wikipedia.org, 16/09/2008

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Lenda do Graal


A LENDA DO GRAAL


O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo.


(Fernando Pessoa – Ulisses)

Introdução

A essência das lendas é o MITO, ou seja, é a crença que se tem nos deuses e, que se estabelece de acordo com o desejo dos povos, através dos tempos.
O mito expressa um conhecimento muito antigo da humanidade, ou seja, o saber primordial. Trata da criação do mundo, dos heróis e dos ritos de iniciação, permitindo que se tenha a compreensão e a clareza dos fatos através dos seus significados. Sua linguagem nasce do inconsciente coletivo e não se expressa à razão, mas à totalidade do ser, e tem o poder de fazer o religare. Ele é atemporal, imutável, eterno e atual, além de ser um objeto de fé. Ao nível bastante arcaico, permite o despertar do profano para o sagrado, pois através dele consegue-se explicar os mistérios da vida e da morte, tornando-os suportáveis para a humanidade.
Ele, cercado de mistérios, carrega o respeito, a reverência, a frustração, além do anseio e da insinuação por algo muito mais amplo, no mundo invisível, que só se pode entender pelas suas metáforas e pelos seus simbolismos.
Nossos antepassados personificavam os sentimentos (amor, raiva, ódio) como deuses, pois os entendiam como sendo possessões do espírito muito poderosas, carregadas de afeto.
Qualquer pessoa pode se defrontar e se envolver com um mito específico, oqual, muitas vezes a prende, de uma forma silenciosa e constante, por toda a vida..
Como é uma representação espontânea, vinda do inconsciente, de verdades psicológicas e espirituais, o mito traz à consciência valores que contêm uma carga psíquica e uma dinâmica que se mostram, quase sempre, independentes do controle do ego constituindo, assim, a nossa história tribal.
Enquanto o sonho traz à pessoa uma verdade psicológica sobre si mesma; o mito mostra a verdade psicológica de um povo ou mesmo de toda a humanidade.
Na análise, a maior parte de nossas dificuldades vêm da perda de contato com os nossos instintos, com a sabedoria antiqüíssima e não esquecida que se encontra guardada em nós (Jung apud Hollis, 2005, p.17-18).


O Mito

Durante séculos a Demanda do Graal; do poeta francês Chrétien de Troyes, escrito por volta de 1.180; tem sido motivo de fascinação e mistério para a civilização ocidental e cristã.
O mito do Graal leva às reflexões psicológicas, por conter muitos elementos, vindos do inconsciente, que envolvem o homem ocidental pelos seus mistérios e significados. Surgido numa época em que a anina começava a atingir a consciência masculina, de uma forma peculiar, trata da importância e da dificuldade que o homem tem em torná-la consciente e relacionar-se com ela.
Segundo Johnson (1987), a lenda do Graal é, fundamentalmente, a história de como acontece a individuação na psique humana.


A Lenda (resumo)

O Cálice da Última Ceia é guardado num castelo cujo rei sofre, continuamente, por causa de uns ferimentos. Essas feridas nunca se cicatrizam e fazem o rei sofrer constantemente.
O rei é ferido no início da sua adolescência quando ao comer um salmão, o qual assava num espeto, queimou os dedos e feriu a coxa. Por causa desse incidente, com o peixe, torna-se conhecido como o Rei Pescador. Sofre, também, por não poder mais gerar, pois seus testículos haviam sido feridos. Por causa disso todo o seu reino tornou-se estéril e, o seu povo vive numa grande desolação.
O Rei Pescador habita o castelo que guarda o GRAAL, porém não pode tocá-lo e, nem ser curado por ele.
Certa vez, o bobo da corte profetiza que um tolo, absolutamente ingênuo, chegaria ao castelo e quebraria o encanto.
Isolados numa floresta vivem um garoto e sua mãe, viúva, de nome Coração Partido. O menino somente saberá o seu próprio nome mais tarde: Parsifal.
A intenção dessa mãe era proteger o filho dos perigos e da morte, pois o marido, que era cavaleiro, morrera ao tentar salvar uma donzela e, os seus dois outros filhos morreram nas pelejas. Ela, então temendo pela vida do filho pequeno embrenhou-se com ele na floresta, com o objetivo de criá-lo com segurança, longe dos dissabores da corte.
Parsifal veste roupas grosseiras tecidas em casa, não tinha instrução e não fazia perguntas. É simples e ingênuo.
Um dia vê passar cinco cavaleiros ostentando as suas armaduras brilhantes. Fica fascinado e, quer segui-los!
A mãe, mesmo com medo de que algo possa acontecer-lhe, dá-lhe a sua benção e o aconselha a respeitar as donzelas; ir à igreja todos os dias; e não fazer perguntas alguma.
Parsifal sai, então, à procura dos cavaleiros...
Encontra uma tenda e pensando ser uma igreja adentra a ela. Lá, vê uma donzela usando um lindo anel e, lembrando-se dos conselhos da mãe, abraça-a e lhe toma o anel. Também seguindo a orientação materna senta-se à mesa e saboreia os alimentos ali expostos. Aflita a moça pede a Parsifal que vá embora, pois seu noivo está para chegar e pode matá-lo.
No caminho depara com um mosteiro abandonado e promete restaurá-lo e retirar o seu encantamento quando tiver tempo.
Na jornada depara com o Cavaleiro Vermelho que vinha da corte do Rei Arthur. Fica encantado com sua armadura brilhante e com os seus adornos vermelhos. Diz-lhe, então, que também quer ser cavaleiro e, é enviado por ele à corte de Arthur.
Já em Camelot, Parsifal depara com uma jovem que não ria há seis anos. Ao vê-lo ela dispara a rir, quebrando o encanto e anunciando a chegada do grande cavaleiro. Arthur, então, o sagra cavaleiro e permite que ele se apodere da armadura, das armas e da montaria do Cavaleiro Vermelho. Parsifal encontra o cavaleiro, mata-o e veste a armadura sobre suas roupas grosseiras. Armado como cavaleiro vai para o castelo de Gournamond, onde é treinado como cavaleiro. Gournamond, diz-lhe que quando encontrar o Graal faça-lhe a pergunta: A quem pertence o Graal?
Lembrando-se da mãe parte para buscá-la, mas descobre que ela já havia falecido. Encontra, após um tempo, com a donzela Branca Flor, pela qual se encanta colocando-se ao seu serviço. A partir daí tudo o que fizer será para servi-la. Depois de libretar-lhe o castelo ,que estava sitiado, e passa a noite com ela.
No dia seguinte encontra dois homens pescando num barco. Um deles o convida a passar a noite no seu castelo. Parsifal aceita e, lá chegando, depara com o Rei Pescador; o homem que o havia convidado. Presencia, na hora da ceia, uma cerimônia na qual quatro jovens carregam uma espada que sangra sem parar, e uma jovem leva o Graal. Parsifal não faz perguntas. No dia seguinte todas as pessoas e o castelo haviam sumido.
Dois cavaleiros de Arthur o vêm buscar levando-o para a corte, onde é recebido com muita pompa.
No meio da festa aparece uma donzela horripilante, montando uma mula decrépita, que enumera todos os defeitos e falhas de Parsifal. Com o dedo em riste, diz que tudo é culpa dele, por não haver feito a pergunta. Determina tarefas a todos os cavaleiros. A Parsifal diz que volte a procurar o Graal. e que quando o encontrar faça-lhe a pergunta.
Parsifal se vai... Passa por muitas aventuras e se esquece do Graal, de Blanche Fleur e da Igreja. Certo dia encontra uns peregrinos que lhe perguntam o porquê de estar armado numa Sexta-Feira Santa. Sente-se muito mal e com remorso. Acompanha-os até um eremita, com quem se confessa. O eremita dá-lhe a absolvição e manda-o ir imediatamente ao castelo do Graal.
O poema original termina aqui, porém outros autores deram-lhe continuidade. Numa dessas versões Parsifal chega ao castelo e faz a pergunta obtendo a resposta: “O Graal serve ao Rei do Graal”.


Os Arquétipos


Observamos que a busca do Graal está relacionada à busca do Self. Para encontrá-lo o ego tem que despir-se de toda a sua arrogância, não podendo estar inflado ou sentindo-se poderoso.
Parsifal é ingênuo e limitado como muitos Heróis. Atua de acordo com a sua intuição ou obedece à orientação de alguém mais experiente. Porém nunca raciocina ou pensa sobre o fato.
Coração Partido, a mãe de Parsifal, apresenta-se de uma forma ambígua, pois enquanto nutre e protege o filho, ela também o destrói, fazendo-o permanecer individualista e ignorante do mundo. É ao mesmo tempo a Mãe Nutridora e a Mãe Devoradora.
Ao encontrar o Cavaleiro Vermelho, nosso herói o mata ficando com a sua armadura. Nota-se que essa armadura é vestida sobre as roupas grosseiras, que lhe cobrem o corpo. Temos aqui o simbolismo da Persona, através da armadura, que o faz sentir-se como um cavalheiro sem que o seja efetivamente. É, também, importante lembrar que é essa persona que o guiará e salvará em muitos momentos de sua aventura.
No castelo do Graal Persifal tem contato com a figura masculina do Rei Pescador, o Animus, que tentará através da pergunta, recebida, incluí-lo no mundo adulto.
Durante o banquete Parsifal vê um cálice é carregado por uma dama, em procissão. É o Graal que a todos atende... É um dos mais antigos símbolos do feminino
A espada que sangra representa o poder do masculino e, é oferecida através da anima. Ela é mostrada e dada a Parsifal para que ele tenha o domínio do mundo e da vida. Representa, também, a espada da justiça; do julgamento, da ira e da vingança.
O sangue é o ”principium vitae”!
Branca Flor, a figura da anima, é abandonada por nosso herói em função do amor dele pela mãe. Mas é através dela que Parsifal é efetivamente separado da figura materna, e inicia a sua própria maneira de ser e viver. Ele descobre por meio de Branca Flor a sua masculinidade e a experiência da mulher real.
A Sombra surge na figura da donzela horripilante e sua mula decrépita, acusando-o e mostrando a ele todas as suas imperfeições. Isso obriga-o a refletir sobre si mesmo, buscando encontrar-se. Essa busca, dura cinco anos, segundo algumas versões e vinte conforme outras.
Nesse período Parsifal esquece-se de Branca Flor, a sua anima, tornando - se mais duro mais amargo e cada vez mais desiludido. A sua vida parece que não tem sentido.
É, numa Sexta-Feira Santa, que Parsifal dá conta de si mesmo. Ao encontrar os peregrinos que procuram a Santa Madre Igreja, busca com eles o refúgio para a sua alma e alívio para os desencantos e dissabores da sua vida.
Comovido os acompanha e encontra um eremita, O Velho Sábio, que é a representação da sabedoria, do masculino. O eremita o induz à retrospectiva de sua vida e lhe dá a absolvição. Diz-lhe para voltar ao Castelo do Graal e que dessa vez faça a pergunta.
O Castelo do Graal, não existe; é a representação de uma realidade interna, uma experiência de alma. Existe só na consciência.
Psicologicamente significa que Parsifal terá que olhar para dentro de si mesmo e fazer a indagação: A quem serve o Graal? Obterá, então, a resposta: O Graal serve ao Rei do Graal... (O Self)



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