quarta-feira, 14 de abril de 2010

As Deusas Mãe

Introdução

O mito, segundo Campbell (1992:15), é a forma através da qual as energias cósmicas penetraram nas manifestações culturais dos diversos povos; seja através das religiões, da filosofia, das artes e outras formas de expressão da inteligência humana, como são os sonhos das pessoas.
Essa simbologia, que não é fabricada, não pode ser ordenada e nem inventada ou suprimida, pois ela é a manifestação transcendente e espontânea da psique. É, portanto, o elemento de expressão dos arquétipos, que se manifestam através da sua linguagem simbólica.
Para Von Franz (2003:9), o mito, se refere aos problemas básicos da humanidade como, por exemplo, os significados do nascimento ou da morte e, da criação ou da destruição total do cosmo.
Jung, afirmava que:

Os mitos são revelações originais da psique pré-consciente, afirmações involuntárias sobre acontecimentos psíquicos inconscientes, nada menos do que alegorias de processos físicos. ...todas as figuras míticas correspondem às experiências psíquicas internas e surgiram originalmente delas. (Jung, apud Hollis, 2005:44)

Vê-se, então, que o mito revela não só o processo pré-consciente de cada povo, levando-se em conta as suas particularidades religiosas e culturais, mas, também, as verdades universais, comuns a toda a humanidade.
Neste trabalho faremos a comparação de algumas particularidades e semelhanças, entre os mitos das deusas, Ísis, Afrodite e Freya.




ÍSIS

Eu concebi, carreguei e,
dei à luz à toda a vida.
Depois de dar-lhe o meu amor
dei-lhe também o meu amado Osíris,
senhor da vegetação,
deus dos cereais,
para ser ceifado
e nascer outra vez!
Cuidei de você na doença,
fiz suas roupas, e
observei seus primeiros passos.
Estive com você, até mesmo no final,
segurando a sua mão
para guiá-lo à imortalidade!
Você para mim é TUDO.
Eu lhe dei TUDO,
e, para você eu fui TUDO!
Eu sou sua Grande-Mãe ÍSIS.


Fragmento de um hino à Ísis, apud Volpatto, 2008)

A mais popular de todas as deusas egípcias, foi cultuada em todo o antigo Egito, tanto no alto quanto no baixo império. O culto a Ísis ultrapassou as fronteiras do Egito e chegou à Grécia, onde ela era venerada ora como Afrodite, ora como Hera; a Roma e à Gália, onde o seu templo Per-Ísis, segundo alguns egiptólogos, deu origem à cidade de Paris.
Filha da deusa Nut (céu) e do deus Geb (terra), tinha como irmã a deusa Néftis, e irmãos a Seth e Osíris, de quem era esposa apaixonada.
Ao tomar conhecimento de que Seth havia assassinado e esquartejado Osíris, espalhando seus restos mortais pelo mundo, Ísis chora profundamente e, das suas lágrimas nasce o rio Nilo. Num ato de amor ela sai à procura dos despojos do seu amado, peregrinando por todo o Egito, a fim de restituir-lhe a vida.
Inteligente e astuta tinha um grande poder mágico. Foi mulher, prisioneira, fugitiva, andarilha e esmolante. Experimentando todas as dores e privações dos mortais, tornou-se a mais poderosa e sábia das deusas do Egito.
Era considerada a Mãe Natureza e o Ventre Universal. Era a provedora da vida e o modelo de mãe e de esposa, alem de ser protetora das mulheres.
Somente através do seu amor e poder é que o homem se elevava à vida espiritual.
Representam-na, normalmente, amamentando seu filho Hórus. Ostentava sobre a cabeça os chifres de Hathor, com o disco solar de Rá e o trono, que é o hieróglifo do seu nome. Em algumas ocasiões, quando o fato era ligado ao luto por Osíris, ela era representada por uma deusa negra, que originou no cristianismo as Madonas Negras.
Senhora dos céus, era a Estrela da Manhã, que anunciava o surgimento de Rá, o deus sol.
O significado do seu nome é “Antiga”, que quando associado à “Maat” sugere a sabedoria muito antiga, isto é, o conhecimento sobre a criação todas as coisa e todos os seres.
Isis dois aspectos: o da mãe criadora e o da destruidora.
A andorinha, a lua, a vaca, o milharfe e a serpente eram a ela consagrados.


Afrodite

Hino a Afrodite (h. ven 5.1-5)

Conta-me musa as façanhas da dourada Afrodite,
a Cíprica, que inspirou nos deuses o doce desejo,
conquistou as raças de homens mortais,
as aves do céu, todos os numerosos animais
que a terra nutre, e a todos os do mar.


(Homero, apud Ribeiro Jr, greciantiga.org/mit, 21/09/2008)


Vinda da Mesopotâmia Afrodite passou pela ilha de Chipre onde, alguns historiadores, dizem que ela nasceu para depois aportar-se na Grécia. É uma deusa muito antiga vinculada à beleza e ao amor, nas suas mais variadas manifestações, sejam elas espirituais ou carnais. A fertilidade, os relacionamentos e às transformações através do amor, também são atribuídos a ela.
Afrodite rege, na sua grandeza divina, a terra os céus, as ondas e as criaturas vivas, pois foi ela quem deu o germe às plantas, quem ensinou a cada espécie animal a unir-se a uma companheira, quem induziu o ser humano viver em sociedade e, a sentir o amor e a paixão.
Afrodite foi quem proporcionou ao homem os cuidados com o próprio corpo!
Na mítica grega ela aparece nas figuras de Afrodite Urânia ou Afrodite Pandêmia.
A deusa na figura Urânia é a Afrodite celeste, a qual inspira à possibilidade de um amor global, sugerido na paixão da alma, além de proporcionar, também, a capacitação do amor pelas idéias.
Já a Afrodite Pandêmia é, literalmente, a deusa do povo; aquela quem possibilita à humanidade, através do vínculo comum com a natureza, o amor mais direto, mais terreno, do qual todos podem usufruir.
Ela é a divindade da lua cheia, sendo, também, representada, pelo planeta Vênus, a estrela da manhã e do entardecer, o mais brilhante nos céus.
No aspecto de deusa do céu Afrodite viaja pelo firmamento, na sua carruagem puxada por cisnes; como deusa das ondas faz-se deslizar por elas levada, sobre o lombo dos golfinhos; como deusa dos animais faz com que eles se atraiam entre si pelo do desejo e, como deusa da terra é responsável pela sua fertilidade ao uni-la ao céu através da chuva que a umidece para
que as sementes germinem.
Afrodite foi casada, por imposição de Zeus, com o deus Hefesto e também com o humano Anquises. Manteve, também, vários relacionamentos pelos quais gerou vários filhos: Hermafrodito com Hermes; Eros com Hefesto, Ares ou Zeus, dependendo da versão; Anteros com Ares ou Adônis; Fobos, Deimos e Harmonia com Ares; Himeneu com Apolo; Príapo com Dioniso e Enéias com Anquises
; porém não cuidou de nenhum dos filhos gerados, pois sua função não é maternagem. (Lindenberg, 2007:172)
Afrodite, a deusa do amor e da fertilidade, tem por símbolos as abelhas, as cabras, os cervos, as ovelhas, as pombas e as vacas.



FREYA
Fragmento de um Hino à Freya

Eu sou Freya,
a bem amada Deusa Nórdica.
Sobrevoando o mundo,
canto alegremente,
celebrando os laços entre amigos e amantes

(apud, blogspot, 21/09/2008) Adicionar imagem

Filha do deus Njord e da giganta Skadi, Freya era a deusa mãe da dinastia dos Vanir, e tinha Frey por irmão. Vai morar em Asgard, dos Aesir, juntamente com outros dois deuses vanires, por causa de um acordo de paz.
Era cultuada como a deusa da magia, da adivinhação, do sexo, da sensualidade, do amor, da atração entre os seres vivos, das flores, da fertilidade, e da riqueza.
Representava a mulher livre, pois só escutava o próprio coração, não dando satisfação dos seus atos a ninguém.
Teve vários amantes, mas foi com Odr (Odin), o seu único e grande amor, com quem se casou e teve duas filhas; Hnoss e Gersemi. Estava sempre procurando amado Odr, pelos céus e pela terra, pois ele quase nunca ficava em Asgard. Nessa procura, chorosa, derramava lágrimas que se tornavam ouro ao cair na terra e, âmbar quando no mar.
Era representada por uma deslumbrante mulher loira de olhos azuis, portanto, no pescoço, um maravilhoso colar de âmbar e ouro; que conseguiu dormindo com os quatro anões que o produziram; e envolvida por uma linda capa de penas.
Os quatro elementos da natureza - fogo, terra, ar e água - e os quatro quadrantes da Terra - norte, sul, leste e oeste – foram conquistas de Freya.
Dizia-se, também, que a líder das Valquirias, recebia àqueles que morriam nas batalhas - metade dos homens e todas as mulheres - no seu palácio Sessrumnir, compartilhando-os com Odr.
A donzela da eterna juventude era associada à lua crescente. A lança, o gato e o javali eram a ela dedicados.


Comentários:

As três deusas eram cultuadas, nas suas respectivas mitologias - egípcia, grega e nórdica - como sendo as regentes da fecundidade, da beleza e da sensualidade, além da magia e da adivinhação.
Essas deusas, muito antigas, representavam, nas suas particularidades, a Grande-Mãe nos seus aspectos de criação e destruição; de vida e de morte.
Eram consideradas a Mãe-Natureza e o Ventre-Universal, pois eram elas quem, como deusas da fecundidade, promoviam a vida, tanto a vegetal e a animal como, também, a humana.
Como forma de transformação espiritual do ser humano, elas faziam da sensualidade e do amor os elementos de atração entre os sexos. Em função disso os povos antigos consideravam o sexo como um dom sagrado.
As deusas protegiam as mulheres e as induziam à liberdade.
Como deusas da fertilidade eram, ainda, associadas à lua no seu ciclo mágico.
Freya e Ísis eram associadas à lua nova enquanto que Afrodite estava representada pela lua cheia.
Como senhoras do céu eram, também, representadas pelo Planeta Vênus: a Estrela da Manhã, a Estrela Vespertina.
O culto a essas magníficas deusas foi substituído por imposição da igreja, na idade média, pelo culto à Virgem Maria, pois temia-se que a visão liberada, que os trovadores tinham das mulheres, pudesse comprometer a autoridades sacerdotail e a masculina. (Woolger, 2007:129)
Na ladainha à Virgem Maria vêem-se, ainda hoje, alguns epítetos relativos às deusas: “Estrela da Manhã”, “Rosa Mística”, “Sede da Sabedoria” e “Vaso Espiritual”.



BIBLIOGRAFIA:


Alvarenga, outros - Mitologia Simbólica, Casa do Psicólogo, SP, 2007.
Browker, J. – Para Entender as Religiões, Atlas, SP, 1997.
Campbell, J. – O Herói de Mil Faces, Cultrix SP, 1992.
Meunier, M. - A nova Mitologia Clássica, IBRASA, SP, 1998.
Neumann, E. – A Grande Mãe, Cultrix, SP, 1996.
Woolger, J.B.e R.J. – A Deusa Interior, Cultrix, 2007.
Ribeiro Jr. – www.greciantiga.org/mit, 22/09/2008
www.blogspot, 15/09/2008
http://www.rosanevolpatto.trd.br, 16/09/2008
http://pt.wikipedia.org, 16/09/2008

2 comentários:

  1. Bom dia,

    Muito boa sua interação diante dos textos da mitologia.Inclusive muito bem colocada a sua conclusão sobre as deusas.
    Gostei muito do blog, estarei sempre aqui.

    ResponderExcluir
  2. Dr. Carvalho,

    Sou eu Helena do RJ, tudo bem?
    Preciso falar urgente com o senhor,
    me add no msn novamente por favor.
    sonoleve98@hotmail.com
    obrigada
    Helena Lyrio

    ResponderExcluir